Pensar em um dispositivo para o diagnóstico do HIV em três dias após a infecção, outro que prevê a probabilidade de enfartes em menos de uma hora e proporcionar a pacientes acometidos pela malária ou câncer de pulmão uma profilaxia mais eficaz são alguns dos projetos que foram apresentados, em Lisboa (Portugal), no Cohitec 2015 - um programa que ajuda projetos científicos a se tornarem negócios, mas aguardam investimento para serem desenvolvidos.
Com o projeto Daila, João Nunes (33), Pedro Valente (30), e Ana Rita Figueiredo (25) querem revolucionar a detecção do vírus HIV. ?Tivemos a possibilidade de aprofundar o potencial da tecnologia. Sabemos que o diagnóstico precoce do HIV é extremamente importante, mas os testes de hoje permitem diagnósticos entre quatro e oito semanas após a infecção. Nós achamos que conseguimos fazer melhor: propomos um tempo de três dias após a infecção?, explicou João Nunes, ao site Observador.
Foi no final de seu doutorado em biologia que João Nunes decidiu se arriscar no projeto e dar por encerrada a vida acadêmica. ?Percebi que havia um rompimento em termos tecnológicos e decidi investir em algoritmos?, contou. Mais tarde, se juntou a Pedro Valente e Ana Rita Figueiredo que compartilhavam da mesma ideia de empreender.
Ao site Observador, João contou que o teste que está desenvolvendo não precisa de assistência laboratorial. Basta colocar uma gota de sangue em um dispositivo que integra um chip com o algoritmo e obter o resultado. Esse algoritimo pode ser aplicado em proteínas e aumentar a sensibilidade de determinado dispositivo, por isso a ideia é que a tecnologia possa ser aproveitada para detectar mais precocemente não só o HIV, mas outras doenças como a tuberculose.
O grupo estima que terá o projeto pronto em um ano e meio e, assim, avançar para um protótipo, caso recebam um investimento de 5 milhões de euros
Outros projetos
No auditório do Pavilhão do Conhecimento, em Lisboa (Portugal), com uma diferença de minutos, também foi apresentado um projeto que promete uma profilaxia que reduz os efeitos da malária em mais de 90% (Anti-Malarials). Uma solução pretende detectar a probabilidade de ocorrência de enfartes cardíacos em menos de uma hora (Sumthink), uma possível cura para um dos tipos de câncer do pulmão (Nanoplex); uma solução de dosagem mais adequada para anestesias (MedInfusion), e ainda um equipamento que poderá ser usado para detectar diferentes micro-organismos que estão na origem de infecções e deverá começar pelo diagnóstico da pneumonia (MDID), além de outros projetos que não se relacionam à area da saúde.
Segundo o site internacional SapoLifestyle, Pedro Vilarinho, coordenador do programa Cohitec, lembra que, entre uma boa ideia e um grande negócio, ainda vai um percurso longo: ?Estes 15 projetos terão de ser analisados a fundo, para se poder saber qual o verdadeiro potencial que têm. No passado, acompanhamos projetos que achávamos que tinham potencial e acabaram por revelar desilusões e também outros em que não acreditávamos tanto e que se revelaram verdadeiras surpresas?.
Nem todos os 15 projetos da mais recente fornada do programa Cohitec vão seguir em frente ? e, mesmo entre os que são selecionados para etapas posteriores, há equipes que se ?desmotivam e regressam à universidade ou se descobre que não estavam à altura das exigências?, recorda Pedro Vilarinho.
Para quem quer seguir em frente, há um objetivo em comum: chegar ao mercado internacional e disputar segmentos que poderão valer centenas ou milhões de euros. Entre os casos de sucesso, destaca-se o grupo de seis empresas que se iniciaram no Cohitec e que já concluíram toda a fase de crescimento estando agora no mercado, com produtos ou protótipos (ACS - Advanced Cyclone Systems, 5ensesinFood, Omniflow, Consumo em Verde - Biotecnologia das Plantas; Abyssal; e BioMode). No total elas valem mais de 40 milhões de euros e contam com 20 patentes registadas. Duas delas já faturaram um total de seis milhões de euros.
Daniel Bessa, diretor-geral da associação Cotec, fechou a sessão de encerramento do evento com uma certeza e um desafio: ?É claro que temos boa ciência em Portugal e o nosso trabalho é transformá-la em negócios, empresas e empregos?.
No Cohitec, todos os projetos são portugueses. O programa investe um total de 200 mil euros em dois deles todos os anos. Em 12 edições, já passaram pelo programa 151 projetos de negócio de base tecnológica, que deram origem a 26 startups e atraíram 35 milhões de euros de investimento.
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