Embora a cura do HIV continue distante, os cientistas garantem que o cenário atual de pesquisa é mais animador do que nunca - diante de novas perspectivas divulgadas durante a conferência internacional sobre a aids realizada esta semana no Canadá.
Informações sobre os progressos em terapias genéticas e o uso de anticorpos para neutralizar o HIV, assim como investigações sobre porque algumas pessoas infectadas são capazes de se manter em remissão sem medicação após tratamentos e uma hipótese de que as vacinas - ainda por serem inventadas - poderiam ser usadas para "chocar e matar" o vírus, estavam entre os trabalhos apresentados.
"O conhecimento sobre o vírus, sua evolução e a resposta do corpo ao HIV está ajudando a limitar e centralizar o enfoque sobre a cura do HIV na agenda de pesquisa", afirmou Françoise Barre-Sinoussi, do Instituto Pasteur da França, premio Nobel e ex-presidente da conferência.
Uma pesquisa divulgada por Christopher Peterson, do centro de pesquisa em câncer Fred Hutchinson de Seattle, Washington (noroeste dos Estados Unidos), divulgou descobertas de um estudo sobre células-tronco modificadas em macacos.
Os especialistas "editaram" com sucesso as células para bloquear a entrada do HIV no sistema de células imunes através de corredores de receptores conhecidos como "cavalo de Troia", informou o estudo.
"Com um número suficiente de células protegidas, o vírus não deveria ser capaz de se expandir e estaríamos diante de uma cura funcional", afirmou Peterson a jornalistas durante a 8ª Conferência sobre a Patogênese do HIV, em Vancouver, no IAS (International Aids Society-- IAS 2015), por onde passaram cerca de 6 mil pesquisadores e especialistas em HIV.
Outro estudo, liderado por John Mascola, do US National Institutes of Health, administrou anticorpos monoclonais HIV-1 a oito pessoas infectadas com o vírus.
Três meses após receber os anticorpos, a carga viral em seis deles "decresceu aproximadamente entre dez e 50 vezes", afirmou o relatório de Mascola. As outras duas pessoas tinham uma cepa resistente ao anticorpo utilizado, agregou.
Os anticorpos podem ter vários usos para tratar a aids, inclusive a possibilidade de ajudar a "matar o reservatório vital" que se esconde nas células dos infectados, explicou Mascola em coletiva de imprensa.
Mais estudos
Nenhuma das novas descobertas levou a tratamentos práticos e "todos geraram mais perguntas do que respostas", afirmou Steven Deeks da Universidade da Califórnia, San Francisco.
Mas Deeks argumentou que as descobertas levarão a "maiores estudos, que podem falhar, mas continuarão levando a novos trabalhos. É assim que a ciência funciona".
Asier Saez-Cirion, do Instituto Pasteur, dirigiu uma pesquisa em uma jovem francesa de 18 anos que nasceu infectada com o HIV cuja família suspendeu o tratamento durante vários anos e mesmo assim a doença se manteve em remissão durante 12 anos.
Nunca antes se havia sabido de um caso no qual uma criança infectada pelo HIV tenha se beneficiado com uma remissão a longo prazo, embora ainda não se saiba como a jovem conseguiu controlar a infecção. Ainda "precisamos de muita pesquisa de base", explicou Saez-Cirion.
Os pesquisadores convidaram a seguir financiando a busca por uma cura, ainda que as pesquisas não mostrem resultados imediatos. "Menos de 1% do financiamento (global) para a aids é para a investigação de uma cura", enfatizou o pesquisador australiano Sharon Lewin.
Lewin disse à AFP (Agence France-Presse) que o sucesso no tratamento de pessoas infectadas pode fazer com que as autoridades e as pessoas pensem que "a aids e o HIV não são grande coisa, que é uma questão resolvida, quando a realidade é que ainda há dois milhões de novos infectados, 1,5 milhões de mortes a cada ano e 35 milhões de pessoas vivendo com HIV".
O próximo passo nas investigações inclui testes clínicos para ajudar os infectados a se manterem em remissão - após suspender o tratamento com antirretrovirais -, tratamentos de "choque e cura" e reforçar o sistema imunológico dos pacientes.
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