25 NOV 2015

Especialistas apontam o que avançou e o que precisa melhorar no tratamento de HIV/aids na infância

Cada vez nascem menos crianças infectadas com HIV e, claro, isso representa muitas batalhas ganhas em 33 anos de luta contra a aids. Mesmo assim, ainda há muito para caminhar até chegar à meta de zerar a transmissão vertical (TV), que é a infecção de mãe para filho, por meio da gravidez, do parto ou do aleitamento materno -- até hoje, em todo o mundo, apenas Cuba zerou a TV. ?Estamos chegando lá?, acredita Mariliza Henrique da Silva, infectologista da Gerência de Assistência do Centro de Referência e Treinamento (CRT), do Programa Estadual de DST/Aids de São Paulo. Pensando na saúde infantil, neste Dia da Criança, a Agência Aids pediu para Mariliza, que coordenou por muitos anos o ambulatório de pediatria do CRT, mais duas especialistas apontarem os avanços da aids pediátrica e o que ainda precisa melhorar nessa área. ?Hoje, graças aos medicamentos, a gente fala em qualidade de vida. As crianças que nasceram com HIV cresceram, são jovens, adolescentes e tocam suas vidas. As poucas que ainda nascem com o vírus são filhas de mães que não tiveram acesso aos tratamentos, por conta de sua situação de alta vulnerabilidade. Integram grupos de população de rua, usuárias de drogas, imigrantes. Elas até procuram nossos serviços, mas acabam não tomando os medicamentos. Têm aparecido alguns casos de mães que se infectam enquanto estão amamentando e, assim, passam o vírus para o bebê?, conta Mariliza. Mas esse cenário nem de longe lembra o que a médica viveu quando chegou ao ambulatório de pediatra do CRT no início dos anos 90. ?Eram muitas crianças e elas morriam, as mães morriam. Hoje, há tantos filhos de mães soropositivas que não têm o vírus. Isso é uma grande conquista.? Carmem Silvia Brunieri, coordenadora das Ações para Eliminação da TV por HIV e Sífilis do Programa Estadual, diz que o grande marco das melhorias na aids pediátrica foi o surgimento do protocolo recomendando o AZT para a mãe e o bebê. ?Ali, a TV começou a cair. Depois, vieram os protocolos dos inibidores de protease para as mães, de teste rápido nas maternidades, da suspensão do aleitamento materno junto com o fornecimento de leite para a criança. Em 2005, tivemos a profilaxia tripla para a gestante e o acréscimo do medicamento nevirapina para os recém-nascidos de mães soropositivas que não receberam antirretrovirais durante a gestação.? A coordenadora, que também é pediatra, relaciona a diminuição da TV ao progresso desses tratamentos. ?Tivemos 538 crianças que nasceram com HIV em 1996, no estado de São Paulo. Em 2013, esse número caiu para 21?, continua Carmem. ?Destes, sete foram registrados na capital e os outros em 14 municípios.? Em todo o Brasil, em 2013, havia 374 casos notificados de HIV em crianças menores de cinco anos, uma incidência de 3,2 para 100 mil habitantes. Em 2014, até junho, havia 159 novas notificações nessa faixa etária. ?É maravilhoso olhar o avanço da profilaxia?, continua Carmem. ?Antes, a gente nem cogitava a possibilidade de gravidez de mulheres com HIV. Hoje, com os cuidados médicos necessários e conscientização, a mulher tem uma gestação controlada e o filho nasce sem o vírus.? ?Os avanços da ciência são inquestionáveis. Eles aumentaram a expectativa de vida e, somados com os trabalhos da sociedade civil e o conhecimento médico, refletiram na diminuição do preconceito?, diz Yu Ching Lian, supervisora da pediatria do Hospital Emílio Ribas, em São Paulo. E o que ainda precisa melhorar? ?A adesão das mulheres em situação de alta vulnerabilidade ao tratamento. Temos de trabalhar arduamente com isso, fazer parcerias com outras secretarias com essa finalidade?, responde Carmem. Mariliza vai na mesma linha. ?Precisa melhorar a adesão. As mulheres em situação de alta vulnerabilidade acabam não tomando remédio, nem dando para o filho, que depende dela para se tratar.? Mariliza também gostaria de ver as crianças contando com remédios mais palatáveis. ?São desafios para a ciência e para os nossos serviços.? Já a pediatra Yu Ching Lian está preocupada com o estado emocional dos pacientes que viu crescer dentro do Emílio Ribas. ?Mais de 50% deles são jovens órfãos. Muitos chegaram a essa fase da vida com acesso aos antirretrovirais, com saúde física, mas estão deprimidos, sem expectativa. Faltou a eles, desde a infância, o suporte emocional. Hoje, não precisamos mais nos preocupar tanto com medicamentos, mas com a saúde psicológica dessas crianças.?

Fonte: http://agenciaaids.com.br/home/noticias/noticia_detalhe/24010#.VlNo8NKrTDc