Em um estudo publicado, nesta terça-feira (5), no periódico "Immunity", os cientistas do Instituto de Pesquisas Scripps, um centro de pesquisas privado nos EUA, anunciaram ter descoberto uma versão "adolescente" de uma das classes de anticorpos eficientes no combate do HIV. A versão é preliminar, mas, segundo noticiado no site da revista "Época", aos poucos, ela vai mudar para ganhar a habilidade de combater o HIV. De acordo com os cientistas do Scripps, o estudo nos deixa mais próximos da criação de uma vacina contra o HIV ? algo que buscamos, sem sucesso, há mais de 30 anos. Leia abaixo na integra:
Um anticorpo "adolescente" dá pistas de como criar uma vacina contra o HIV
Algumas poucas pessoas infectadas com o vírus HIV ? cerca de 5% delas ? são capazes de produzir anticorpos eficientes para combater o invasor. Elas são membros do que os cientistas chamam de "grupo de elite" ? por anos, conseguem viver bem sem tomar medicação. A quantidade de vírus no corpo cresce em ritmo lento e sem ameaçar o sistema imunológico desses hospedeiros. Como essas pessoas desenvolveram essa habilidade é algo que ainda intriga a ciência. Elas contam com a ajuda de um tipo de proteína que os infectologistas chamam de anticorpo de amplo espectro, capaz de atacar e neutralizar o HIV.
Os cientistas do Instituto de Pesquisas Scripps ? um centro de pesquisas privado nos EUA- estudam essa classe de anticorpos. Em um estudo publicado nesta terça-feira (5) no periódico "Immunity", anunciaram ter descoberto uma versão "adolescente" deles. É uma versão preliminar que, aos poucos, vai mudar para ganhar a habilidade de combater o HIV. A descoberta é importante. Entender como essas proteínas se desenvolvem pode ajudar os cientista a descobrir como forçar o corpo de pessoas comuns, que não fazem parte do grupo de elite, a produzir seus próprios anticorpos de amplo espectro. Segundo os cientistas do Scripps, o estudo nos deixa mais próximos da criação de uma vacina contra o HIV ? algo que buscamos, sem sucesso, há mais de 30 anos.
A pesquisa foi resultado de um esforço coordenado de cientistas dos EUA e da China. Em 2006, pesquisadores do Centro de Controle de Doenças (CDC) da China coletaram amostras de sangue de um desses pacientes de elite. A amostra continha anticorpos que, geneticamente, lembravam os anticorpos de amplo espectro. "Havia algo de muito curioso a respeito deles", disse Jiang Zhu, um dos líderes do estudo. Ao longo dos cinco anos seguintes, até 2011, novas amostras de sangue foram coletadas do mesmo doador. Os pesquisadores perceberam que seus anticorpos mudavam com o tempo. Em dois anos de evolução, eles já apresentavam a maior parte das características requeridas para combater o vírus HIV.
Como isso pode virar uma vacina?
Anticorpos são um tipo de proteína de ação muito específica. Para um anticorpo funcionar, ele precisa ser capaz de reconhecer e se conectar a alguma estrutura do invasor ? e, só então, destruí-lo. É por isso que os anticorpos contra um tipo de vírus da gripe não funcionam contra todos os tipos de vírus da gripe. Os biólogos chamam essa especificidade de princípio da chave e fechadura ? se você quer abrir uma porta trancada, precisa ter a chave certa.
A resposta imunológica do organismo segue alguns passos. Usualmente, logo que o corpo detecta um invasor, cria tipos imaturos de anticorpos para tentar combatê-lo. Geralmente, esses anticorpos imaturos falham na tarefa. Eles não são a chave certa para destruir o vírus. Seu papel é coletar pistas para o organismo, que serão usadas para produzir anticorpos com outros formatos, mais capazes de combater a infecção.
Os cientistas do Centro Scripp trabalham com a hipótese de que a melhor maneira de produzir uma vacina contra o HIV é enganar o organismo ? fazê-lo pensar que está na presença do vírus quando, na verdade, ele continua seguro. O princípio é o seguinte ? uma vacina tradicional introduz, no organismo humano, o vírus morto ou atenuado. O corpo reconhece as estruturas que formam o invasor e cria defesas que se conectam a essas estruturas para destruí-lo. Essa estratégia é arriscada no caso do HIV. Por isso, os cientistas querem vacinar humanos com proteínas que emulem partes do vírus da aids. Que tenham o formato das estruturas virais as quais os anticorpos se conectariam para combater a infecção.
Estudar o anticorpo imaturo é interessante porque pode ser complicado criar um anticorpo de amplo espectro pronto. Usando essa técnica que engana o organismo, os cientistas esperam ser capazes de criar versões adolescentes deles. Versões que, com tempo, vão se tornar capazes de proteger o organismo de maneira eficiente.
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