Tomar um ônibus rumo a um lugar distante na cidade, abrir uma conta no banco, marcar uma consulta médica, lidar com o próprio dinheiro, fazer um currículo, preparar-se para uma entrevista de emprego. Em algum momento, todo cidadão se depara com a primeira vez diante dessas atividades que, com a prática, tornam-se corriqueiras. Para superar a apreensão da estreia, nada como uma presença adulta ou simplesmente mais experiente para apontar o caminho.
Garantir essa referência e fortalecer a autonomia das crianças e adolescentes atendidos pelo acolhimento institucional* estão entre os intuitos do trabalho realizado pelo Instituto Fazendo História. Desde a sua fundação, em 2005, a organização desenvolve programas que ampliam a capacidade deste serviço, procurando assegurar ao seu público-alvo uma reparação efetiva ? uma prerrogativa do período de acolhimento, apesar do seu caráter provisório ? e torná-lo apto a se apropriar e a transformar suas histórias de vida.
De acordo com relatório de 2014, os projetos e ações do Instituto mobilizaram 542 voluntários, atenderam diretamente 1.472 crianças e adolescentes e reuniram 1.445 profissionais dos serviços de acolhimento em suas formações. "Promover encontros entre a comunidade e o serviço de acolhimento é uma marca do nosso trabalho", afirma Mônica Vidiz, coordenadora do novo programa Apadrinhamento Afetivo, voltado, sobretudo, a crianças e adolescentes com poucas chances de adoção ou retorno familiar.
O universo ao qual se refere é de aproximadamente 4,7 mil crianças e adolescentes com 7 a 17 anos, idade em que declinam as chances de inserção em uma nova família. A iniciativa partiu da Vara da Infância e da Juventude do Fórum Central de São Paulo e contou com o Instituto Fazendo História para a realização. Ao longo do segundo semestre de 2015, madrinhas e padrinhos voluntários passaram por uma qualificação, envolvendo também as crianças e adolescentes e os profissionais do serviço de acolhimento.
?É uma função importante, que precisa ser desenvolvida com muita competência, sensibilidade e comprometimento?, destaca a coordenadora. Por isso, a organização propõe um acompanhamento que se distribui ao longo de três anos para que o padrinho entenda os comportamentos daquela criança ou jovem e em quais áreas ele pode ter uma contribuição mais efetiva. ?Falamos em apadrinhamento afetivo, mas apenas o afeto não basta. Claro que é superimportante, mas nem sempre traz o impacto que consideramos necessário?, explica Mônica.
Presença duradoura
Como em qualquer outra relação, ao longo da convivência surgem conflitos e desafios, e é neste momento que o apoio técnico torna-se especialmente relevante. O Instituto não faz, porém, uma distinção específica entre os dilemas de adolescentes e de crianças ? público compreendido na maior parte dos seus projetos. ?Olhamos cada um com um olhar particular e individualizado?, afirma Débora Vigevani, coordenadora do programa Fazendo Minha História, que promove o registro das histórias de vida das crianças e adolescentes por meio do contato com a literatura.
Para refletir caso a caso e qualificar o atendimento dos voluntários, a organização conta com alguns dispositivos, como as supervisões mensais, nas quais o grupo discute os desafios encontrados no decorrer do trabalho com um técnico mais experiente, e as capacitações semestrais para todos os voluntários, nas quais um convidado aborda um conteúdo específico, como as características do desenvolvimento na adolescência, depois disponibilizado no blog.
A atuação do Instituto Fazendo História, como explica Débora, concentra-se na oferta de um voluntariado qualificado e não pautado por ações pontuais e doações. "Oferecemos uma presença duradoura", define a coordenadora. O objetivo é que as crianças e adolescentes acolhidos tenham a oportunidade de estabelecer vínculos de confiança, favorecendo o seu gradativo desligamento da instituição e a conquista de autonomia para a realização dos seus próprios projetos na vida adulta.
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