Por Danilo Mekari, do Portal Aprendiz, com Cidade Escola Aprendiz
Salas grandes com carteiras enfileiradas e alunos de costas uns para os outros. Do colega da frente só se vê a nuca ? e pelas próximas quatro horas as conversas e trocas estão proibidas. No Brasil, esse modelo de educação em massa, surgido no final do século dezenove, está desgastado e envelhecido. Perdeu seu tempo histórico e sua razão de existir.
Ao menos essa é a opinião de duas especialistas em educação, Maria Pilar Lacerda e HeloÃsa Mesquita. ?É por isso que a maioria prefere sentar na turma do fundão?, brincou Pilar, ao notar que o público do debate A escola conectada à comunidade se comportava da mesma maneira. O evento foi organizado pelo Núcleo de Inovação e Desenvolvimento Profissional (NIDP) da Escola Lourenço Castanho e aconteceu em um auditório da unidade de Ensino Médio do colégio na segunda-feira (27/4).
Para essa transformação acontecer, Pilar não tem dúvidas: ?A comunidade é absolutamente transformadora nesse processo?. A partir do debate entre Pilar e HeloÃsa, o Portal Aprendiz enumerou sete razões para incentivar a conexão entre os espaços de aprendizagem formais com a comunidade.
#1 Reconhecer o outro
Mesmo em bairros de metrópoles como São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte existem muitas disparidades entre as pessoas. Ao invés de ser baseado em medo e distanciamento, o convÃvio social entre os moradores pode estimular a troca de conhecimentos e ensinar as crianças e adolescentes a reconhecer e respeitar e valorizar as diferenças. ?Educação comunitária é importante para aprender a reconhecer o outro. Temos que pensar que a sociedade só sobreviverá se passar os seus conhecimentos para os mais jovens?, aponta Pilar.
?Conhecer o outro é a melhor forma de a pessoa se formar, fazer percursos para reconhecer o território e estabelecer relações que humanizam?, acrescenta.
#2 Mapear os gostos dos estudantes
HeloÃsa acredita que a palavra Experimental dá um caráter mágico aos ginásios cariocas, pois transforma o projeto em um laboratório que o libera de burocracias estatais, mesmo sem abrir mão de monitoramento e organização. Uma das pesquisas realizadas pela escola elencou os interesses, desejos e vontades dos estudantes, desde o músico e banda que mais ouviam até as suas preferências alimentares. ?A escola precisa ir além do ensino ? precisa ouvir e se conectar ao jovem atual?, defende HeloÃsa.
#3 Descobrir os conhecimentos da comunidade e levá-los para dentro da escola
?Em minha trajetória, percebi que trazer a famÃlia para a escola impacta muito o aprendizado?, revela HeloÃsa. No processo de mapeamento da comunidade, um dos GECs descobriu a mãe de um aluno que, sendo bancária e trabalhando com números, passou a ajudar estudantes com dificuldades em matemática. ?Qual a vocação daquela população no entorno da escola?? Essa é uma das questões que, segundo HeloÃsa, devem ser feitas por toda instituição de ensino.
A mesma pesquisa revelou uma habilidade manual presente na maioria dos estudantes: a de fazer reparos domésticos como consertar tomadas e instalar antenas de televisão. O Ginásio, então, criou matérias eletivas extracurriculares contemplando as áreas de mecânica, eletrônica e elétrica. ?Nós, como gestores, temos que sair da escola, conhecer onde o aluno mora, o que ele vive?, observa Pilar.
#4 Reconhecer o território como espaço educador
Já pensou que o padeiro pode ajudar o professor de quÃmica? Fortalecendo os laços comunitários e abrindo espaço para a escola circular nos espaços públicos e os moradores também entrarem na escola, cria-se a possibilidade daquele território ser reconhecido como espaço educador.
A ex-secretária do Ministério da Educação (MEC) cita o programa BH para Crianças, que oferece transporte aos alunos e professores para visitar museus, cinemas, teatros, parques e galerias de arte, entre outros espaços culturais da cidade. ?A escola precisa abrir o portão simbolicamente e fazer o diálogo começando por onde está inserida. Isso refresca o cotidiano escolar, hoje tão envelhecido?, avalia Pilar.
#5 Conectar as escolas da comunidade
Localizada na Gávea, a Escola Americana do Rio de Janeiro fica muito próxima a uma das entradas da comunidade da Rocinha, a maior favela da cidade. A diretora de um Ginásio Experimental descobriu que, no currÃculo do colégio privado, havia a obrigatoriedade de cumprir ações sociais. Propôs então que os alunos da Escola Americana ensinassem inglês aos estudantes da escola pública da Rocinha. Deu certo.
#6 Ouvir as crianças
?Se a gente escutasse mais a criança veria que ela tem a resposta para fazer a mobilização e a conexão com a comunidade. Nós, adultos, temos medo de violência, o mundo está complicado, mas se a gente chamar um guri pra ajudar alguém e fazer algo por aquela comunidade ele vai topar. Porém, sempre arrumamos ?senões? para isso. Precisamos dar a chance de o próprio aluno abrir a porta?, propõe HeloÃsa.
#7 Pelo direito à cidade
?Sem utopia: a educação transforma a cidade. Ou seja, toda essa discussão que estamos tendo na verdade diz respeito ao direito à cidade?, argumenta Pilar. ?A escola é essencial para um futuro no qual a cidade seja desenhada para as pessoas.? |