Ana LuÃsa Vieira, do Promenino, com Cidade Escola Aprendiz
Professor, jornalista, publicitário, escritor... Autor de mais de 80 livros e um dos principais nomes da literatura infantojuvenil do paÃs, Pedro Bandeira coleciona atividades e uma série de prêmios. Com 23 milhões de livros vendidos desde a década de 1980, entre eles ?A Marca de uma Lágrima?, ?O Fantástico Mistério da Feiurinha? e ?O Mistério da Fábrica de Livros?, Bandeira lançou, no ano passado, ?O Beijo Negado?, pela Editora Moderna. Na obra, reúne lembranças e aprendizados de sua infância.
A pedido do Promenino, Pedro escolheu aquele que considera o maior aprendizado de sua infância. Confira a crônica do autor.
Lição de briga
Pedro Bandeira
Menino de praia, franzino mas igual a todos os meninos daquela mesma praia era eu aos sete anos. Na época, falava-se muito de um grande campeão de box, o americano Joe Louis. Não havia televisão e, fascinado, eu atento ouvia os mais velhos a narrar façanhas do imbatÃvel boxeador. Mais tarde, frente ao espelho, eu procurava reproduzir os movimentos felinos que ouvira Joe Louis fazer para vencer seus adversários e lá ficava a gingar meu magro esqueleto sentindo-me vencedor, no centro do meu ringue imaginário.
Certa vez, uma divergência entre mim e o filho do barbeiro resultou em briga. Enfrentamo-nos e na hora lembrei-me das lições do grande campeão. Assim, recusei-me ao agarra-agarra tÃpico das briguinhas de meninos e pus-me a gingar, a soltar meus minúsculos punhos, em busca de uma brecha na guarda do meu pequeno adversário. A balbúrdia atraiu desocupados e logo vimo-nos cercados por um grupo de adultos que ria e açulava nossa contenda. Foi aà que meus treinos à frente do espelho deram resultado e meu punho enfiou-se entre os braços do menino indo acertar seu rosto em cheio.
Sucesso! Os adultos irresponsáveis que nos assistiam deram-me a primeira salva de aplausos de minha vida. Mas, embora meu punho de frangote nem tenha causado qualquer dano ao filho do barbeiro, vi-o parar, olhar para mim e... desatar no choro!
Na mesma hora, meus ouvidos não mais ouviam o sadismo da plateia e eram superadas pelas lágrimas que eu arrancara no rosto do meu pequeno adversário.
Nunca saberei o que aquele incidente causou ao filho do barbeiro, mas o que causou em mim foi indelével, pois naquele momento aprendi que nunca mais na vida eu buscaria qualquer sucesso que fosse resultado da dor de outra pessoa.
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